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Por que medo e liderança andam lado a lado?

Engana-se quem pensa que quanto mais se cresce na vida, mas tranquilo se fica. Crescemos com essa máxima. Muitas vezes, estimulados por nossos próprios pais e familiares. Ao longo de nossa infância, ouvimos mensagens de estímulo das mais variadas: “Estude e trabalhe muito para ser um grande homem / mulher. E quando chegar lá, sua vida vai ser mais tranquila”.

Quanto mais crescemos, mais medo temos. E quanto mais crescemos, os medos não somente se diversificam, mas ficam mais intensos.

Alguns psicólogos argumentam que o medo é a mais antiga de nossas emoções, existindo já nas primeiras formas de vida na Terra. O medo está totalmente ligado à memória no Sistema Límbico, e, por isso, desperta emoções das mais variadas.

Acontecimentos que provocam emoções fortes, principalmente as assustadoras, liberam cálcio no cérebro, que por sua vez codifica a informação. Mas o medo também nos protege, aliás, tem essa como sua principal função.

Se avaliarmos os principais medos de quem começa sua jornada corporativa, vemos que as inseguranças geradas estão, em sua maioria, relacionadas pela falta de conhecimento. Não se sabe como as coisas funcionam e como vamos reagir a esse “meio” estranho. Não sabemos sequer se vamos aguentar a pressão, já que não nos conhecemos o suficiente. Estagiários, trainees ou mesmo profissionais que adquirem seus primeiros empregos não sabem se vão se adaptar.

Têm medo de não serem aceitos, medo de serem pré-julgados, pré-excluídos do meio em que estão chegando. Além disso, sentem receio de serem taxados de incompetentes, mesmo sabendo que o desenvolvimento de suas competências levará tempo para acontecer.

Existe um outro medo muito comum no mundo corporativo: o de não crescer rapidamente (como alguns gurus vêm pregando ser necessário), ou mesmo de não aprender nada. E se passamos a entender um pouco mais esse medo, vemos que o meio de comparação onde nossos jovens vivem é tão agressivo quanto os mais altos níveis organizacionais. Compete-se pela idade. Se um jovem de 18 anos se torna gerente, outro da mesma idade tende a sofrer pelo fato de achar que ele está ficando para trás. Ao invés de se comemorar a promoção do colega, um jovem pode acabar se punindo por “ficar atrás na corrida corporativa”. “Por que ele e não eu?”

Se analisarmos o “meio da pirâmide” corporativa os medos serão outros, porém, os medos sentidos na base não desaparecem. Conforme vamos crescendo, vamos acumulando mais medos. Se viramos gerentes, somos agraciados com medos novos. Promovido à medos novos. Quanto mais crescemos, mas medos diferentes ganhamos.

Podemos até desenvolver a incrível capacidade de não demonstrá-los, mas eles estão ali, sentadinhos. Esperando você crescer mais um pouco para a família de medinhos aumentar.

Um profissional na base da pirâmide tem medos diferentes. Em sua maioria, são medos relativos a competição. Se na base os medos eram gerados pelo desconhecimento, no meio, os medos são gerados pelo excesso de conhecimento“Já sei bem como as coisas funcionam, e já vi coisas horrorosas no mundo corporativo!” – É o que mais falam. Profissionais demitidos da noite para o dia, falta de reconhecimento, promoção de apadrinhados, ausência de meritocracia, downsizing, freezing, mudanças de chefe, péssimo clima, fofocas, puxa-saquismo, etc.

Os medos são tão diversificados que ficaria difícil nomeá-los aqui. Os mais comuns são o medo de levar um bypass, de não ser convocado para uma reunião importante, de não ser copiado em um e-mail, de não ser lembrado.

Mas quanto mais se vive mais se aprende, e mais medo temos. Quanto mais conhecemos da realidade, mais percebemos que histórias críticas acontecem. E o medo principal é o de ser o protagonista da história triste. O grande medo é se tornar o principal motivo de medo dos outros.

Viu o que fizeram com o João?”. João tem medo de se tornar o medo de alguém. E lá vem, de novo, nosso Sistema Límbico atuando para nos deixar com medo, novamente. “Será que não vou ser reconhecido? Será que vou ser demitido? Será que estão falando de mim?” Sim, os medos são novos, mas os medos da base da pirâmide te acompanham. É como um bolo, que vai ganhando novas camadas e coberturas.

O topo da pirâmide não é diferente. Depois de colocar todos os tipos de decoração neste bolo, a cereja coroa os vencedores. Estar no topo corporativo é aceitar sentir a soma de todos os medos. Tem-se medo de ser arremessado de volta para a base da pirâmide, os medos do meio, e, agora, medos novos!

Ser promovido para o C-Level é uma incrível aventura a um parque novo: A Medolândia!

Temos medos de todos os tamanhos, formatos e cheiros! Medos desconhecidos, novos pavores preparados especialmente para desafiar nossos novos integrantes da Diretoria. Uma aventura diferente! Super legal!

Aqui os medos são mais sofisticados. Como uma montanha-russa super moderna. Neste estágio do mundo corporativo temos o medo de perder o status quo. Medo de quebrar, de ser visto como alguém que cresceu porque teve sorte e não competência. Tem-se medo de não ser visto como alguém inspirador, que não promova as mudanças necessárias, que não atinja o objetivo. Tem-se o medo de ser engolido pelos profissionais que estão abaixo de si, de ser mal interpretado, de ser preso por assinar um contrato. Medo de responder com seus próprios bens um erro corporativo cometido por outrem. Tem-se medo de adoecer, enfartar na frente dos outros, de morrer. Tem-se o medo de ser esquecido.

O topo da pirâmide tem medos muito peculiares. Estão relacionados aos julgamentos dos outros. “O que a imprensa fala de mim? O que o board fala de mim? O que meus clientes falam? O que meus funcionários falam? O que meus acionistas estão pensando?”

Não acredite naquele Diretor ou Presidente que diz não se importar com o que os outros falam ou pensam dele. A esta altura do campeonato a reputação é a maior conquista. Imagine chegar tão longe, tão alto, conquistar tanto e ser preso em uma operação da Polícia Federal? O medo de perder tudo, mas principalmente “sujar o nome” é o maior de todos os medos. Os ativos passam a ser cada vez mais intangíveis. Ser considerado um executivo que ajudou a quebrar a empresa é um dos maiores temores de qualquer profissional C-Level.

Sucessores tem um medo redobrado. Ouvir que a empresa era muito melhor quando estava nas mãos do sucedido é um verdadeiro soco no estômago. Uma vez, falando com o presidente sucessor de uma grande empresa, ouvi que seu maior medo era ouvir a frase: “As coisas não são mais como eram antigamente.” Pessoas fazem julgamentos o tempo todo.

Se recebermos 99 elogios e apenas 1 crítica, é nela que passaremos a pensar.

Uma grande amiga me disse uma vez: “Se temos uma unha encravada, não ficamos pensando nas outras 9 que não estão doendo”. É verdade que quanto mais perto do sol, não só maior a queimadura será, mas principalmente é maior o medo de se queimar.

Mas no medo está também o crescimento. Encare o medo como um verdadeiro “pedágio” para sentir as sensações mais incríveis do mundo corporativo. O medo nos faz crescer e aprender com os erros. O que não podemos permitir é deixar o medo ser mais forte que a vontade de crescer, aprender.

O medo não pode te paralisar. Quando montamos a Escola do Caos me lembro de termos feito uma lista de tudo o que poderia dar errado em nossa empreitada. Sentimos muito medo. A lista era imensa. Tínhamos medos dos mais variados. Sabíamos que o propósito era grande, mas o medo estava sentado do nosso lado.

Então, resolvemos enxergar o medo como membro da equipe. É um animal que está ali. Se você o alimentar, ele vai ficar grande, pesado. Para onde você for, terá que carregar esse fardo. Mas você também não pode ignorá-lo. Simplesmente não ouvi-lo. Ele está ali, inclusive para te ajudar. Para diminuir o excesso de confiança e te fazer dar aquele doble check em tudo.

O medo passou a ser um aliado, que não nos deixa nunca entrar na zona de conforto. O medo convive conosco, mas é uma alavanca estratégica do nosso sucesso.

Por isso, sempre que temos que tomar uma decisão, por mais medo que possamos sentir, dizemos: “E se der medo? Vai com medo, mesmo!”

Alberto Roitman é Chief Chaotic Officer da Escola do Caos, autor dos livros Você é o que Você entrega e A Última Chance. Podcaster no Caos Corporativo (Spotify) e sócio do Armazém.

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