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O coaching chegou ao fundo do poço?

Se até semana passada as críticas se misturavam às chacotas, os coachs passaram a carregar mais uma pedra em suas costas. A malfadada aventura protagonizada no Pico dos Marins (MG) abriu um novo precedente. Além de não gerar resultados, fazer perder tempo e ainda soar como charlatanismo à vítimas emocionalmente vulneráveis, o coaching promovido por pseudo profissionais , ainda por cima, pode matar.

Mas pode ser pior? Pode. Visitei as redes sociais do Coach que promoveu a tal excursão que quase matou todo mundo. Seu êxito foi aparecer no Fantástico em uma matéria ao estilo “não caia nessa” e mesmo assim, inacreditavelmente é possível ver uma grande quantidade de pessoas interessadas em participar de seus programas.

Estamos ficando todos loucos?

Conheço coachs sérios, que investiram em sua profissão de maneira estruturada e que atuam com clientes gerando bons resultados. Se são muitos ou poucos isso não vem ao caso. Como toda profissão existem os bons e os ruins, mas creio que muito do que se fala tem seu motivo. Particularmente entendo que o coaching seja um trabalho coerente, onde há uma dedicação mútua entre coach e coachee com uma metodologia estruturada.

Mas por outro lado não consigo compreender as estapafúrdias deste mercado. Principalmente as sessões coletivas de histeria onde o coach master aparece pulando, pedindo para que as pessoas se levantem, batam palmas, gritem, se abracem ou se joguem no chão. Realmente tenho muitas dúvidas se pessoas mentalmente bem organizadas se sujeitam a dançar ou proferir palavras de efeito em duzentos decibéis para “gerar uma energia” que vai lhes mudar a vida.

Posso estar errado? Talvez.

Também não consigo acreditar como um coach possa vender cursos caríssimos de como alcançar o sucesso e ter seus bens penhorados por não honrar seus compromissos. O(A) Coach, talvez, deveria ser o último ser humano do mundo a ir à falência. É como um dentista que não tem o dente da frente ou um pneumologista que fuma. Este é o ônus da profissão. Quer ensinar a ter sucesso, você passa a ficar proibido de ter fracasso.

Por isso, que me perdoem os coachs juniores, mas não consigo entender “alguém que deseja ensinar alguém” a alcançar seus objetivos se sequer os temas mais básicos de sua vida financeira, familiar e profissional não estão equilibrados. Seria uma irresponsabilidade conceder um título de Coach para alguém que não consegue se organizar minimamente.

Questiono os processos de admissão de um aluno em um curso de coaching que não tem uma análise prévia de sua vida profissional ou pessoal. Basta chegar com uma grana, contratar um curso e ditar regras para as pessoas alcançarem seus resultados?

Profissionais assim existem porque existem pessoas que contratam profissionais deste tipo.

Seria como dar um registro de CRM para alguém que não fez faculdade de medicina. O que um coach fala pode mudar radicalmente a vida de um coachee, para a melhor ou pior. É por isso que existe uma proposta para regular a profissão de coach no Congresso Nacional, e te afirmo que estamos demorando muito para regular este mercado.

Conheço um profissional que não deu certo em lugar algum, e que está fazendo um curso para ser coach para tentar se dar bem. Ele está em um curso de um professor que está respondendo a mais de cem ações na justiça.

Depois que ele conseguir o diploma faltará apenas a prova de fogo, subir no Pico dos Marins.

Como em todas as profissões, os maus prejudicam o trabalho dos bons. Pena dos coachs que realmente estão fazendo um excelente trabalho.

Alberto Roitman é Chief Chaotic Officer da Escola do Caos, autor dos livros Você é o que Você entrega e A Última Chance. Podcaster no Caos Corporativo (Spotify) e sócio do Armazém.

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