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Cultura do Terror Corporativo

Ao longo deste período de quarentena muitas empresas, por meio de seus líderes, aprenderam lições memoráveis. Talvez a principal seja a que nada é mais importante que a saúde e a vida. Por outro lado, talvez ainda não seja tão claro que haja uma relação direta entre a cultura corporativa e a segurança psicológica dos colaboradores. Este artigo é dedicado a todos colaboradores que vivem uma Cultura do Terror Corporativo em suas empresas.

Reflita se vale a pena continuar atuando em uma empresa que possui visão, missão, e valores inspiradores, mas apenas no quadrinho da parede.

Listo aqui algumas características de uma empresa que adota a Cultura do Terror,

1) A performance é fator decisivo para promoção ou demissão.

Nossa cultura ocidental assumiu a meritocracia como sendo o principal fator de recompensa ou reconhecimento. Porém, as confusões são inúmeras. Ao perguntar para diversos executivos o que significa meritocracia, muitos dizem: “o hábito de entregar resultados acima da curva”. A cultura de alta performance estimula colaboradores a performarem sempre acima de suas condições naturais.

Essa necessidade de se superar o tempo todo vem gerando medo, insegurança e inúmeros casos de síndrome de Burnout. Meritocracia é algo fundamental, mas engana-se quem pensa que se trata de uma foto, um extrato de um momento, ou mesmo um pequeno período em que vemos se um colaborador está com ótimos KPI´s. Meritocracia é um filme.

É composta por entregas, por demonstrações de colaboração aos colegas, lealdade à marca, prontidão para aprender, identificar oportunidades e sugerir melhorias. Performance é importante, mas jamais deveríamos demitir ou promover alguém levando este critério exclusivamente.

Empresas que promovem ou demitem por performance são adeptas da Cultura do Terror.

2) Liderança silenciosa

A insegurança no ambiente de trabalho é gerada por atitudes de líderes que sabem existir um problema na equipe, mas preferem adotar o silêncio como estratégia. Pode até ser que este problema tenha sido criado pelo próprio líder, mas solucioná-lo demandará exposição de seus gap´s de conhecimento ou mesmo de habilidade no trato com as pessoas.

Aliás, talvez este seja um dos maiores problemas das empresas na atualidade: Líderes que possuem dificuldade em lidar com gente. Talvez por que não saibam, talvez por que não gostem. Em ambos os casos, o melhor é não aceitar a promoção. Aceite um aumento de salário, mas gerir equipes é coisa séria.

A liderança não pode ser silenciosa. Isso nada tem a ver com introversão. São líderes que não se comunicam, omitem suas emoções e se acham acima do bem ou do mal. É uma liderança apática que não ensina e não dissemina. Uma liderança morna, que não se importa com pessoas.

Empresas que permitem que líderes com essas características estejam em suas empresas são permissivas com a Cultura do Terror.

3) Medo de errar congela a criatividade

Algumas empresas têm tantas políticas que inibem a criatividade de seus times. Por trás desta característica de comando e controle existe uma necessidade de evitar o erro ao extremo. Para muitas empresas o erro é sinônimo de prejuízo, problemas com a marca e falta de eficiência. Cria-se uma falsa percepção de que empresas de alta performance não erram.

Ainda assim, outras empresas estimulam o erro como forma de aprendizagem, mas o “climão” impera quando ele acontece. Empresas que adotam a cultura do terror não deixam claro seu posicionamento sobre qual “erro vale” e qual “erro não vale”. Elas deixam para os colaboradores decidirem, e como ninguém tem certeza de qual é o erro que ajuda a crescer, ninguém quer ser o protagonista da desgraça. Deixa-se que uma alma mais ousada e destemida erre primeiro.

Outro tema recorrente na empresas é o fato de que colaboradores que são mais “queridos” pelos lideres têm maior liberdade para errar do que aqueles que não são tão bem quistos pela liderança. Erro é erro, independente de quem o comete. Erro bom é aquele que não é repetido. Erro ruim é imprudência, negligência e imperícia. Erro bom provoca aprendizagem.

Empresas que não se posicionam claramente sobre o erro, contribuem para a Cultura do Terror.

4) Resultados abaixo do esperado derrubam as máscaras das pessoas.

“Você conhece a seguradora, de verdade, quando precisa acionar o seguro do seu carro”. Isso também serve para a sua empresa. Quando os resultados estão abaixo do esperado, todas as máscaras caem (dos líderes que as usam, obviamente). A Cultura do Terror é facilmente constatada quando os líderes da empresa mudam seus comportamentos se a empresa está abaixo da meta.

A tensão está no ar, as brincadeiras acabam, as piadinhas somem. O gato sobe no telhado. Se antes o clima era motivo do orgulho de pertencer, agora, melhor ficar na sua para não virar bode expiatório. Se você tem medo de ser rifado na primeira crise, saiba que sua empresa adota a cultura do terror.

Empresas genuinamente verdadeiras lidam com as crises com a mesma disposição, autenticidade e transparência quando os tempos são bons. Não há motivo para soltar rojões, mas também nenhum motivo para que a comunicação passe a ser seletiva, o assédio moral passa a imperar e nem para que as desavenças nasçam. É um momento para fortalecer a todos, e não para gerar atritos e desgastes irreparáveis.

Que tal compartilhar conosco suas experiências em áreas ou empresas que adotam ou adotaram a cultura do terror? Foi tranquilo trabalhar lá? O que você sentiu? Tem saudades? Qual sua dica?

Alberto Roitman é Chief Chaotic Officer na Escola do Caos, Co-founder no Armazém do Caos e Autor dos livros Você é o que você entrega e A última chance. Podcaster no Caos Corporativo.

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