Desde que comecei a atuar no mercado de trabalho, tive a oportunidade de encontrar três tipos de líderes. Um deles classifico como aquele com o qual aprendemos muito sobre como NÃO devemos ser. É aquele que grita, assedia moralmente, não ensina nada. Está muito mais preocupado consigo. Este queremos esquecer, mas não conseguimos.
Ao segundo perfil, dei o nome de líder “morno”. É aquele que possui comportamentos insípidos. Se esconde atrás das atividades burocráticas. Não aparece, é silencioso. Faz de tudo para desaparecer e sofre para lidar com gente. Como não participa ativamente da atividade corporativa, é muito comum que até esqueçamos dele. Afinal, não agrega muita coisa em nossas vidas.
E existe o terceiro tipo, aquele que não queremos nos esquecer. É o que nos ensina todos os dias e acabamos levando seus exemplos por onde passamos. Sempre que nos lembramos dele, abrimos um sorriso. A este, chamo de líder inspirador.
E essa liderança, para ser verdadeiramente inspiradora, não precisa se limitar a momentos de grandeza recorrentes. Ela é construída pela repetição de atos simples, mas notáveis. O papel do líder inspirador vai muito além de apenas conduzir uma equipe para o cumprimento de metas. Envolve um ciclo contínuo de gestão de pessoas, em que cada fase do relacionamento entre o colaborador e a organização é uma oportunidade para que a pessoa na liderança deixe sua marca, moldando a cultura, os resultados e o desenvolvimento humano.
E depois de muito estudar o que define essa liderança inspiradora, faço uma recomendação direta, para os que desejam se afastar dos dois primeiros perfis que mencionei. A dica é: use o ciclo de gestão de pessoas como uma alavanca estratégica para construir sua liderança inspiradora.
Recrutamento e seleção: a base de uma equipe diversa
A jornada de uma liderança notável começa no processo de recrutamento e seleção.
Um líder que busca inspirar deve atuar de forma estratégica, atraindo pessoas com diferentes perfis, experiências e habilidades. O foco na construção de uma equipe diversa é fundamental para que a organização se beneficie de múltiplas perspectivas, aumentando a criatividade e a inovação. O líder precisa estar presente nessa fase, assegurando que o processo seja inclusivo, equitativo e que valorize a diversidade de pensamento. Faça o recrutamento às cegas. Sua equipe perceberá que você valoriza opiniões diferentes.
Onboarding: acolhimento e alinhamento
Uma vez selecionada a equipe, o próximo passo é garantir um processo de onboarding eficaz. Jamais largue a pessoa contratada nas primeiras semanas. A liderança deve garantir que ela se sinta acolhida e compreenda rapidamente a cultura, os valores e os objetivos da organização.
Esta fase é fundamental para definir o tom do relacionamento entre o colaborador e a empresa. Um onboarding bem estruturado, liderado de forma inspiradora, oferece suporte e clareza, facilitando a integração e fortalecendo o senso de pertencimento. Para isso, coloque na sua agenda um tempo de qualidade para andar com o novo funcionário pela empresa e ter a certeza de que ele está se envolvendo e entendendo as atividades.
Contratação de objetivos: alinhamento entre negócio e desenvolvimento pessoal
A definição de objetivos é uma das fases mais sensíveis no ciclo de gestão de pessoas. A liderança deve garantir que os objetivos individuais de cada colaborador estejam alinhados com as metas organizacionais. No entanto, a grandeza de um líder se revela quando ele é capaz de equilibrar essas metas de negócio com o desenvolvimento pessoal de cada um. Objetivos bem estabelecidos permitem que o colaborador contribua para o crescimento da empresa enquanto evolui em sua própria carreira. Crie objetivos que sejam desafiadores com o cuidado de não ousar demais, buscando não desestimular seu funcionário.
Observação dos gaps e feedback constante
A liderança inspiradora não é passiva. Uma liderança atenta observa continuamente o desempenho de sua equipe, identificando gaps e áreas de melhoria. A habilidade de fornecer feedback constante, de forma construtiva e positiva, é o que diferencia um líder comum de um líder notável. Esse feedback não deve ser apenas corretivo, mas também uma oportunidade para reconhecer os sucessos e estimular o desenvolvimento contínuo. Feedback se dá todo dia, toda hora. É um instrumento de desenvolvimento.
Treinamento: capacitar para o presente
Treinamento é essencial no desenvolvimento de qualquer colaborador. Um líder deve promover um ambiente de aprendizado constante, identificando as necessidades imediatas dos colaboradores e oferecendo oportunidades para que eles aprimorem suas habilidades. Mais do que apenas cumprir um protocolo, o líder precisa envolver-se diretamente nesse processo, demonstrando que acredita no potencial de crescimento de cada membro de sua equipe.
Desenvolvimento: pensando no longo prazo
Se o treinamento visa preparar o colaborador para desafios atuais, o desenvolvimento olha para o longo prazo. A liderança inspiradora compreende que o desenvolvimento profissional é uma jornada contínua. Ela trabalha lado a lado com seus colaboradores, ajudando-os a traçar um plano de carreira que seja satisfatório tanto para o indivíduo quanto para a organização. Esse planejamento, apoiado por mentorias e coaching, fortalece o compromisso do colaborador com a empresa. Gosto de dizer que o objetivo de um líder é se tornar irrelevante. Quando isso acontece, sua missão foi cumprida.
Promoção: reconhecimento de mérito e potencial
O reconhecimento é fundamental na liderança eficaz. Quando um líder identifica que um colaborador está pronto para um novo desafio, a promoção é um reconhecimento merecido de seu potencial. No entanto, é importante que essa promoção não seja apenas uma recompensa por resultados imediatos, mas, sim, um reflexo da confiança no potencial de longo prazo do colaborador.
A promoção deve ser vista como uma forma de motivar e inspirar outros membros da equipe a buscarem seu próprio crescimento. Mas lembre-se: esse reconhecimento não deve ser dado pelo fato de o colaborador ser um bom técnico. Ela precisa reunir quesitos que mostrem que a pessoa poderá ser, assim como você, uma liderança inspiradora.
Demissão humanizada: respeito e cuidado nos momentos difíceis
Nem todas as relações de trabalho terminam de maneira positiva, mas, mesmo nesses momentos difíceis, o líder inspirador se destaca por sua capacidade de conduzir a demissão de maneira humanizada. Respeito e empatia são essenciais durante o processo de desligamento.
Em primeiro lugar, essa decisão não deve surpreender o colaborador, pois deve acontecer após mais de um feedback sincero. No momento da demissão, a liderança deve explicar brevemente as razões da decisão, relembrando o que já havia sido dito nos feedbacks anteriores, e oferecer suporte para a transição do colaborador, seja através de indicações ou de apoio psicológico. Uma demissão feita com dignidade reflete o caráter do líder e da organização.
Aposentadoria: encerrando um ciclo com honra
O ciclo de gestão de pessoas se completa com a aposentadoria, o momento que marca o fim de uma jornada profissional. A aposentadoria deve ser tratada como um reconhecimento pelo tempo de serviço e pelas contribuições feitas à organização. A liderança inspiradora valoriza esse momento, demonstrando gratidão e respeito. Além disso, deve estar preparada para apoiar o colaborador na transição para essa nova fase da vida, garantindo que a empresa ofereça suporte de saúde, financeiro e emocional, se necessário.
A liderança inspiradora se constrói em cada um desses momentos do ciclo de gestão de pessoas. O líder que age com consistência e repetição de atos notáveis transforma a equipe e impacta profundamente a organização. Ao entender e atuar de maneira proativa em cada fase, desde o recrutamento até a aposentadoria, essa liderança não só garante a eficiência operacional, mas também inspira e molda a cultura organizacional.
E, assim, criamos uma cultura de confiança e respeito mútuo. Quando os colaboradores percebem que a liderança é consistente em suas ações e que elas são sempre guiadas por princípios éticos e pelo interesse no desenvolvimento da equipe, eles se sentem mais motivados a seguir esse exemplo. A liderança deixa de ser uma posição e se torna um estilo de vida.
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Artigo de Alberto Roitman para a 11ª edição da Revista Caótica. Clique aqui e acesse a publicação completa.