O que esperar da tecnologia para os próximos anos?
Um comparativo com o que vivemos nos anos 1920.
Estamos na década de 20 e por incrível que pareça, vivemos um cenário muito parecido com o que a humanidade se confrontou da década de 20 do século passado. Veja as coincidências incríveis pelas quais estamos passando.
O mundo tinha acabado de viver as agruras da I Guerra Mundial e os países ainda sentiam os efeitos e consequências daquela insanidade. A pandemia da Gripe Espanhola matava entre 20 a 100 milhões pelo mundo (dados imprecisos) e mudava a forma como olhávamos a saúde e o sanitarismo. Com as correntes migratórias da guerra e da gripe, o xenofobismo assim como uma forte onda de nacionalismo (o que resultou na II Guerra, posteriormente) afloraram o preconceito. Uma onda de moralismo atingiu os Estados Unidos e sua consequência foi a instauração da Lei Seca, a crise de instituições e até mesmo o surgimento de coletivos paralelos (como os Gangsters, onde Al Capone se tornou o ícone deste movimento) que “administravam” bairros e cidades.
Por sua vez, o mundo viveu uma explosão de consumo com a força do capitalismo puxado pela indústria automotiva, que se tornaria a força motriz do mercado. A I Revolução Industrial ganhou contornos claros e as discussões sociais, trabalhistas e de direitos humanos começaram a surgir. Os avanços da medicina nos trouxeram a Penicilina e uma imensidão de antibióticos inauguraram uma nova indústria, antes insípida: a farmacêutica.
O cinema se tornou o lazer das multidões e famílias inteiras se reuniam para assistir aos filmes de Charles Chaplin e até do Gato Félix. Ao mesmo tempo em que retrocedíamos por um lado, avançávamos muito, em outros, como por exemplo, o voto feminino em diversos países do mundo (absurdamente o voto feminino no Brasil somente se consolidou na Constituição de 32). A ciência avançou com os estudos do átomo e passamos a compreender melhor a energia elétrica e até aquilo que se tornaria mais tarde a nuclear.
Nossos anos 20 da atualidade tem um cenário extremamente parecido. Segundo a ONU, existem pouco mais de 30 conflitos armados em andamento pelo planeta. Alguns deles, como na República Democrática do Congo, já matou 3 milhões de pessoas. Nossas televisões dão ênfase para o Afeganistão, que também é uma tragédia anunciada. Mas não vemos nada sobre os demais conflitos que vivemos. A ONU divulgou um novo relatório em Ago/21 afirmando que os danos provocados à natureza são irreversíveis. Temos uma pandemia em curso, mudando a forma de viver e trabalhar. Isso sem falar na migração em massa dos países asiáticos e africanos para a Europa.
O cenário das tecnologias também é parecido em ambas as décadas. Já são mais de 40 plataformas de streaming operando, com inserção diária de vídeos e séries, abrindo um mercado incrível de produção cultural e cinematográfica. Se o turismo internacional ainda está restrito, não podemos dizer o mesmo do espacial. Mais de 100 empresas já estruturam produtos e serviços para que tenhamos a sensação por alguns segundos do que é a ausência de gravidade. Diversas companhias aéreas do mundo todo avaliam como entrar neste mercado, que certamente não ficará restrito à Jeff Bezos ou Ellon Musk.
A Inteligência Artificial caminha a passos largos e a robotização ganha campo em todos os segmentos. É possível que em 2 ou 3 anos tenhamos chips implantados no corpo e nos tornemos Ciborgues. A primeira utilização dos chips provavelmente será vinculado à possibilidade de acompanharmos a nossa saúde, real time, em um aplicativo, com a mensuração de nossos hemograma.
A biologia sintética não mais será limitada aos congressos de medicina nos rincões do mundo. É bem possível que tenhamos fazendas verticais de aranhas produzindo tecidos ou mesmo outros animais que sejam biologicamente alterados para a produção de medicamentos ou insumos para o consumo. A Biomimética será uma das áreas que mais receberá incentivos dos governos de primeiro mundo e será uma vantagem competitiva desleal frente a países que não a dominarem.
Pesquisadores da Erasmus University estudaram o DNA de determinadas aranhas para tentar entender a forma como produzem sua teia. Baseado nessa observação, eles conseguiram reproduzir em laboratório uma fibra muito parecida, com água, açúcar e levedura que possui as mesmas características químicas da natural. Já é possível produzir leite de vaca com os mesmos componentes sem que precisemos ordenha-las ou mesmo fabricar aço a partir da substância viscosa dos peixes. A biologia sintética mudará a percepção que temos da interação com a natureza e ao mesmo tempo criará um novo mercado de matérias primas, reduzindo custos da construção civil, moda e da indústria pesada.
Por fim, já estamos entrando em uma nova era da tecnologia. Sairemos da era do Petascale Computing, onde nossos computadores fazem até um quadrilhão de cálculos por segundo, e entraremos na era do Exaescale Computing, com um quintilhão de cálculos por segundo. Para que você possa entender o que significa um quintilhão, insira 18 zeros depois do 1. A Inteligência computacional entra em uma era onde será possível avaliar alternativas das mais incríveis para criar uma combinação de agrotóxicos que agridem menos o nosso meio, ou avaliar como produzir alimentos saudáveis, julgar processos judiciais ou mesmo salvar o planeta de ameaças climáticas.
Afinal, o que esperar da tecnologia para os próximos anos?
Se nossos anos 20 serão incrivelmente emocionantes, o que esperar dos anos 20 do século que vem? Até lá, será possível contar com alguma alternativa da medicina para aumentar nossa expectativa de vida. Quem sabe, terei a oportunidade de escrever, para você, um artigo comparando essas três décadas incríveis em evolução.
Alberto Roitman é Chief Chaotic Officer na Escola do Caos, Co-founder no Armazém do Caos e Autor dos livros Você é o que você entrega e A última chance. Podcaster no Caos Corporativo.