Já sei, você já está pensando que amor não é competência, mas acabo de decretar que sim. Você também pode chamar de habilidade, soft skill, fique à vontade… A nomenclatura não importa… mas AMOR: Não dá mais para viver sem essa COMPETÊNCIA no trabalho!
Vou começar explicando porque eu tenho falado sobre amor e empatia no trabalho. Eu tenho dito isso porque fui lançada no mundo corporativo por conta de uma tragédia.
Aos 39 anos fiquei viúva e me vi com a responsabilidade de criar dois filhos e cuidar dos negócios da família no setor de reciclagem e gerenciamento de resíduos. Isso foi um baque. Até então, minha vida profissional tinha sido exclusivamente dedicada ao jornalismo. Até aquele momento, tinham sido 18 anos escrevendo, apurando notícias, entrevistando, apresentando telejornais. De repente cheguei a uma empresa que tinha perdido seu líder inspirador, com funcionários cheios de perguntas, assim como eu. Era preciso entender de balancetes, fluxo de caixa, questões trabalhistas, tipos de materiais e negociação. Assim, de uma hora para outra.
Na época eu não parei para pensar se seria difícil ou até impossível, como algumas pessoas quiseram me fazer acreditar. Eu fui. Não demorou para eu perceber que se eu encarasse tudo aquilo que eu não conhecia de uma forma positiva, o que parecia impossível poderia se tornar mais leve. E assim foi.
Eu não sabia, mas estava aplicando o princípio do fluxo, divulgado pelo psicólogo húngaro Mihaly Csikszentmihalyi. Ele diz que quando você faz o que gosta, se sente focado, criativo e as ideias fluem… e que é possível assumir a mentalidade amorosa e positiva para atividades que você não gosta, se você focar no resultado.
Ah, tinha que ter a ver com amor. Estar ali era como manter viva a memória do meu marido. E também tinha amor no desejo de manter a renda da família e assim não alterar o padrão de vida dos meus filhos, já que viver sem o pai, na minha opinião, já era mudança demais. É que com o salário que eu ganhava como jornalista de TV eu não conseguiria nem pagar as mensalidades da escola das crianças. Então foi pegar ou largar. Eu peguei.
Peguei tão firme que, ao buscar informações para me desenvolver como líder, me apaixonei tanto por aprendizagem que me tornei sócia dos mais brilhantes profissionais do ramo do Brasil, Anderson Bars e Alberto Roitman. Hoje fazemos juntos o Podcast Caos Corporativo . Já ouviu? Não? Clica no link então 🙂
Mas, voltando ao amor… Será que só eu encarei um desafio de trabalho por amor?
Você, que me lê agora, trabalha por quê?
Se não acha que é por amor, pensa comigo: a gente trabalha para dar conforto a quem a gente ama, para viajar com quem a gente ama, para ajudar quem a gente ama. Então, qual é a novidade em dizer que a gente trabalha por amor?
Por que isso soa tão piegas no mundo corporativo? Soa piegas por que a liderança das nossas empresas é formada em sua esmagadora maioria por homens. E esse papo de amar não é coisa de menino né? (sic).
“Esse papo de amor é coisa de mulher… é muito “mimimi””, não tem a ver com metas, números, objetividade, receita, lucro… Pois eu acho que é aí que a gente começa a se perder. Se passamos metade do nosso dia, ou seja, da nossa vida no trabalho, ter que “esconder” o mais nobre dos sentimentos humanos é o mesmo que dizer que devemos deixar de ser nós mesmos no ambiente profissional. E pode estar aí a causa de muitas frustrações no trabalho.
Não dá para separar nosso propósito de vida do trabalho. A gente precisa acordar cedo motivado a realizar esse propósito. Um trabalho que se encaixe nele faz a gente se sentir “pertencendo”, seguro e realizado. Nesse estado de espírito, as coisas tendem a se encaixar de modo mágico. Só que não tem truque. O fato é que quando você trabalha com algo que não faz sentido para você, o desinteresse, a baixa produtividade e o estresse são consequências óbvias, caso você não foque no resultado e não seja grato à oportunidade que você tem!
Precisamos, de uma vez por todas, parar de achar que é possível separar “vida profissional” da “vida pessoal”. Gente!!! Não somos pizzas!
– Meia profissional, meia pessoal, por favor! Você riu? Ah mas essa é a mais pura verdade!
Do que são feitas as empresas? De CNPJ’s, processos, contas a pagar e a receber, equipamentos, metas, receitas, despesas e lucros. Certo. Mas… quem é que realiza tudo isso? Quem controla as contas, quem opera os equipamentos, quem atende aos clientes, quem negocia prazos, quem fecha aquele contrato espetacular? É gente né? É!!! As empresas são feitas de pessoas e pessoas são feitas de amor! Por que é tão difícil entender?
Bom, entender isso é um grande passo. Vamos em frente agora.
O que forma afinal o modelo de uma empresa? Não seria uma consciência coletiva vinda das pessoas que formam aquele grupo? Se o modelo é bom ou ruim, isso depende da soma da energia dessas pessoas. Qual é a energia na sua empresa? O que move seus funcionários a cumprirem o expediente diariamente? A necessidade de suprir suas necessidades básicas de sobrevivência? Então, provavelmente, sua organização se baseia no medo, na relação hierárquica baseada na inferioridade x superioridade, competitividade nociva, fofocas, mentiras, puxadas de tapete. Se sua empresa desperta algo mais nesse empregado, se ele percebe que seu trabalho colabora para a realização de algo maior, sua organização se baseia na confiança. E onde há confiança há um ambiente seguro para uma hierarquia mais horizontal, autorresponsabilidade, flexibilidade, liberdade para questionamentos, construção em grupo. Bom, mas nem precisa dizer que para que isso se torne realidade, precisa ser desejo de uma liderança verdadeiramente amorosa.
Tenho certeza de que muitos que lerão este artigo irão pensar que é fácil amar o trabalho quando se tem um cargo de destaque, uma empresa de sucesso e que, para a maioria, é difícil conciliar trabalho e propósito. Mas eu discordo. Mesmo que a obrigação de ganhar dinheiro seja o grande motivador para a pessoa trabalhar, que contas ela tem que pagar? São as contas da família? Seus estudos? Uma viagem? De novo… tudo tem a ver com amor. É preciso amar esse trabalho que proporciona à pessoa obter o dinheiro que precisa para cumprir com essas obrigações! Então, volto ao psicólogo húngaro para falar do “Fluxo”, ele surge se a pessoa curtir muito o que faz e nem perceber o tempo passar, mas também pode rolar se a pessoa focar no resultado!
Se você ainda acha que esse papo de amor e trabalho é mimimi, vamos à ciência.
Você sabia que o amor ativa 12 diferentes áreas do cérebro e libera substâncias no organismo como dopamina, ocitocina, adrenalina e vasopressina. Essas substâncias têm relação com prazer, bem estar e motivação. Será que isso pode te ajudar a ser mais feliz no trabalho? Será que com essa enxurrada de sensações positivas você ainda vai duvidar que é preciso amar seu trabalho?
Ah… e quem ama o que faz se torna uma pessoa mais generosa e capaz de praticar famosa empatia, sabe aquele papo de se colocar verdadeiramente no lugar do outro? Esse mesmo. Aquilo de abandonar nosso jeito de pensar para entrar verdadeiramente na dor e na tristeza do outro. Isso é fundamental nas empresas. Líderes precisam ser capazes de amar e se colocar no lugar do outro. Colaboradores precisam se ajudar mutuamente, é preciso deixar de lado o amargor da competitividade e da cobrança toxicas para criar um ambiente de respeito, acolhimento à diversidade e amor em movimento.
Amanda Costa é Chief Kindness Officer na Escola do Caos