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Você sabe construir times?, por Anderson Bars

Se você já leu outras coisas que escrevi, certamente vai se recordar do quanto que me preocupo com a profundidade técnica, com as referências, com os exemplos, com os números e etc. Mas desta vez, antes de mergulhar no tema do artigo, me permiti contar uma história pessoal, que vez por outra conto por aí, lá da época em que me tornei líder.

Não sei se por sorte (minha) ou por azar (da minha equipe), tive a oportunidade de me tornar líder muito jovem. Na época, eu era um rapaz de 22 anos que liderava um time comercial com mais ou menos 40 pessoas. É, faz tempo, não precisa fazer contas… Minha história é aquela bem comum, de um colaborador individual com resultados consistentes que vê na liderança a oportunidade de progressão de carreira e não tinha a menor ideia que assumir a liderança significava justamente mudar de carreira. 

Me lembro que, ao mesmo tempo em que eu me animava com o novo, me assustava pelo fato de não ter a menor ideia do que faria no dia 1 de minha liderança. Fui meio que por bom senso, replicando comportamentos que gostava que líderes meus tivessem comigo e tentando não replicar comportamentos que eu odiava que líderes meus exercessem.  

Pois bem, dado esse contexto, vou pular alguns capítulos para chegar logo no auge do drama, ou da comédia, a depender da perspectiva. 

Como eu era um líder jovem, imaturo, despreparado e com ego inflado (sim, admito), na época, os meus líderes me deram de “presente” uma das equipes que mais performavam. Lembro até hoje do discurso do meu chefe: “Olha só Anderson, eu sei que você nunca liderou e até por isso, estamos te dando uma equipe que já produz ótimos resultados. Você saberá o que fazer, só não estrague todo o ambiente de resultados que eles já aprenderam a cultivar”. 

Na época, minha resposta foi a mais óbvia: “Sim, chefe… Deixa comigo que vai ser fácil”. Pois bem, em 3 meses consegui bater um dos principais recordes de toda a minha vida. Assumir a equipe que mais se destacava em todos os indicadores de resultado e colocá-la no último lugar de um ranking com mais de 30 equipes que eram avaliadas pelos mesmos indicadores. 

Lembra do que falei mais acima sobre imaturidade e ego? Então, eles foram os culpados por me fazerem entender que a culpa por isso ter ocorrido era do time, não minha, o jovem talentoso e potencial. 

Quando isso aconteceu, me recordo como se fosse hoje, de ter corrido para marcar uma reunião com meu líder, que teria como pauta as pessoas do time que eu responsabilizava por tamanho resultado negativo. 

Foi aí que tive a minha primeira e mais derradeira lição sobre liderança. Meu chefe se virou para mim e disse: “Então, Anderson, você está aqui vindo reclamar das pessoas do seu time, que estavam em primeiro lugar até antes de você chegar e agora estão em último, é isso? Pois me deixe dizer uma coisa: as equipes são sempre reflexo dos líderes que têm. Espero que tenha aprendido a lição”.  

Talvez aí eu tenha tido a minha primeira lição sobre autorresponsabilização também, mas daí é tema para outro artigo. Esse fato nunca mais saiu da minha memória e, como líder, sempre que algo não vai bem, a reflexão que faço é: “O que estou fazendo que está provocando isso?”.  

Curiosamente, ter vivido essa experiência foi justamente o que me fez querer estudar sobre liderança, o que venho fazendo desde então e que hoje me possibilita estar aqui escrevendo sobre o tema e descobrir anos depois uma carreira que me faria ajudar pessoas com esses e outros desafios. 

Daí, por conta disso, uma pergunta que sempre surge quando estou em interações com turmas de líderes nas soluções da Escola do Caos é a seguinte: “Anderson, se você pudesse escolher uma única habilidade que faça a diferença no dia a dia da liderança, qual indicaria?”. 

Óbvio que essa não é uma resposta fácil. São dezenas, não, centenas, talvez milhares de estudos e livros que têm o objetivo de responder a essa pergunta, que é praticamente o Santo Graal do universo de desenvolvimento de pessoas e times.  

Por isso, não vou generalizar, vou responder bem objetivamente aquilo que acredito que é a habilidade número um para todos os líderes: SABER CONSTRUIR TIMES! 

No exemplo pessoal que citei um pouco antes, o que não consegui perceber na época, mas que agora é claro e evidente, é que o que mantinha aquele time unido, focado e inspirado era justamente o líder que estava antes de mim naquela cadeira. Era ele quem criava o ambiente ideal para que a performance acontecesse, entendendo perfeitamente as dinâmicas sociais e o relacionamento entre os integrantes daquele time. Ele sabia construir e manter times.  

Claro que demorei até conseguir achar o meu jeito de lidar com essa questão, no entanto, minha vida de líder mudou depois que conheci Bruce Tuckman (por meio de seus livros). 

Com o Bruce aprendi que todos os times passam por estágios, que possuem características bem específicas: 

  • Formação: quando um grupo de desconhecidos passa a atuar juntos. São um bando.
  • Tempestade: quando os indivíduos começam a querer conquistar seu espaço e mostrar que são valiosos para o grupo, por isso, devem ser mantidos. 
  • Normas: quando as pessoas se dão conta que a individualidade, o ego e a vaidade atrapalham os resultados e combinados de atuação precisam ser estabelecidos. 
  • Performance: quando o time vence os dilemas e entrega acima da média de maneira recorrente. 
  • Adiamento: quando integrantes, justamente por suas performances positivas, começam a deixar o time para novos desafios ou quando projetos chegam ao fim. 

Artigo de Anderson Bars para a 1ª edição da Revista Caótica. Clique aqui e acesse a publicação completa. 

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