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Por que as pessoas não se sentem à vontade ao lado dos diretores?

 

Quando trabalhei em grandes empresas, me lembro da ocasião em que nosso Presidente ou mesmo um Diretor “parrudo” chegava em nosso andar. Era raro eles nos visitarem. Mas quando isso acontecia, o jeitão da área mudava. Mesmo que fosse apenas uma “passada” pelo corredor, ou mesmo uma visita um pouco mais demorada, as pessoas se transformavam. Parecia que uma “entidade” havia tomado forma de um ser humano, e se deslocava entre nós. Era como se tudo congelasse.

As pessoas demonstravam estar focadas no que faziam. Parecia tudo perfeito.

Os papeis do chão sumiam automaticamente, as mesas bagunçadas ganhavam uma incrível estética e os sapatos voltavam aos pés das pessoas embaixo das mesas. O presidente estava passando a tropa em revista. O silêncio imperava. Ouvia-se apenas o digitar frenético dos teclados.

Naquela hora, o chefe do nosso departamento escolhia um mortal ou outro para responder à pergunta do líder supremo que ali passava. Alguém que não o fizessem passar vergonha. Troca de sorrisos. As pessoas olhavam para o Chefão, balançavam a cabeça em uma espécie de reverência corporativa e logo voltavam a fingir que estava tudo bem. Depois de um tempo, o presidente ia embora, e as pessoas voltavam a murchar a barriga, respirar novamente. Não precisavam mais pensar duas vezes antes de fazer um movimento. Os botões do cinto eram afrouxados e os sapatos e saltos voltavam a sair dos pés, debaixo das mesas e fora delas, também.

Mas, por que as pessoas sentem desconforto por estar ao lado dos Presidentes de empresa? Ou mesmo dos Líderes que estão perto do Olimpo?

De onde surge a sensação de formalidade e de necessidade de ajuste comportamental quando estamos perto destes cargos? Por que as pessoas não ficam à vontade tal qual estivessem ao lado de um colega de trabalho qualquer? Por que a tensão toma conta do corpo ao estar com eles?

A melhor explicação para esta resposta li do filosofo coreano Byung-Chul Han, autor de A Sociedade do Cansaço. Segundo Han, nossa geração viveu uma transição da Sociedade da Disciplina para a Sociedade da Performance. Antigamente (mas isso ainda existe), as pessoas que cresciam nas organizações eram aqueles que tinham “tempo de casa”. Era a maior e melhor demonstração de confiança. Quanto mais tempo de casa, mais você crescia. Hoje, grande parte das empresas te promove pelo desempenho. Quer virar presidente, performe!

Estar ao lado de um profissional do C-Level (pouca gente sabe, mas chamamos de C-level pois são pessoas cujos cargos começam com C! CEO, CFO,CTO, e por aí vai…) gera tensão porque é um profissional que se destacou. Ou aguentou o tempo de casa para crescer ou entregou resultado.

E como são pessoas que chegaram lá, conseguem identificar rapidamente quando você não tem nenhuma coisa e nem outra. Han ainda diz que pelo fato destes líderes já terem “amassado muito barro”, fica fácil bater o olho nas pessoas e ver quem está dentro do estereótipo desejado ou não.

Então, você, inconscientemente, fica tenso de estar ao lado desses caras, pois está sendo observado e julgado. 

Mas não é para tanto. Presidentes de empresa, C-Level ou qualquer que seja o nome bonito que sua empresa dê para eles, (cada empresa adota um nome estranho, alguns chamam de EXCO, Dream Team, Comitê de Notáveis, Grupo dos 12 ou 11, etc), é composto por pessoas que também têm que cortar as unhas, têm dores de barriga, tem medo de serem derrubados de suas cadeiras pelos Diretores abaixo deles (eles podem até não dizer, mas tem medo, sim), tem suas angustias, seus medos, e fraquezas.

São pessoas que sentam com seus filhos para ensinar uma lição de casa, levam esporros da esposa se deixam a toalha molhada em cima da cama, ouvem reclamação do marido se estiverem trabalhando muito e não dando atenção para os filhos. São pessoas que ficam injuriadas com o preço do arroz, chateadas com a violência, indignadas com o governo e frustradas com a morte de amigos. São todos iguais a você. São pessoas. Não são entidades, seres mitológicos e nem mutantes Marvel.

Em nossa pesquisa, mapeamos as principais dores dos líderes sêniores das empresas. Essas dores são bem diferentes das dores vividas pelos profissionais mais júniores, claro.

Mas se você entende-las, será mais fácil de se aproximar deles. Reunimos no Eixo Culture as preocupações dos Líderes sêniores sobre a Cultura da empresa, como transformá-la e torna-la uma alavanca estratégica da companhia. Já no Eixo Transformation estão as preocupações relativas à acompanhar à evolução do mercado e tornar a empresa cada vez mais em linha com os avanços tecnológicos, mercadológicos e antropológicos. E por fim, reunimos no Eixo Dream, as preocupações de construção de uma organização maior e melhor do que ela(e) encontrou. Demos a nossa pesquisa o nome Líder Omega.

Para ter acesso à pesquisa completa clique aqui: Seguem as dores mais comuns que levantamos:

  1. “Como a cultura organizacional interfere nos resultados do meu time?”
  2. “Como a evolução cultural impacta minha empresa?”
  3. “Como uso a cultura para acelerar meus resultados?”
  4. “Como trazer a sustentabilidade para o dia a dia da empresa?”
  5. “Como as novas relações de poder mexem com a vida das organizações?”
  6. “Ainda precisamos falar de ética?”
  7. “Qual a medida certa para quando preciso ser mais incisivo?”
  8. “Como liderar equipes invisíveis?”
  9. “Como construir times de verdade?”
  10. “Sobre quais temas globais preciso estar antenado?”
  11. “Como a Geopolítica interfere no meu negócio?”
  12. “Quais devem ser minhas novas reflexões sobre governança?”
  13. “Como os novos modelos organizacionais vão impactar o business?”
  14. “Como estruturar meu legado?”
  15. “Como faço a estratégia acontecer na empresa como um todo?”
  16. “Como tirar proveito do Global Mindset?”
  17. “Onde minha intuição pode me levar?”

É isso! Dores mais do que comuns para pessoas feitas de carne e osso. Da próxima vez que você estiver com eles ao seu lado, lembre-se, é gente como a gente.

Alberto Roitman é Chief Chaotic Officer da Escola do Caos, Podcaster do Caos Corporativo, Autor do Livro Você é o que você entrega! e A Última Chance.

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