A primeira liderança é um marco na vida de todos os profissionais. E, claro, todo mundo quer líderes incríveis à frente de sua organização. Mas, no mundo real, não há varinha mágica ou IA que produza este efeito. Na prática, escolher os profissionais certos para as vagas estratégicas é um quebra-cabeça complicado para as organizações. Descobrir como encaixar cada peça no lugar certo é a receita de sucesso mais procurada no mundo corporativo. Afinal, serão eles que estarão à frente da companhia tomando decisões, indicando rotas e comandando times.
“Desenvolver líderes depende justamente de fazer boas escolhas. Apesar de parecer óbvio, na maioria dos casos o que faz uma empresa reconhecer alguém com uma posição de liderança é o histórico de boas entregas técnicas, quase como se fosse a única consequência natural da carreira. Porém, já ficou mais que comprovado que existem profissionais que são ótimos técnicos e não têm aptidão para liderar pessoas”, avisa Anderson Bars, sócio da Escola do Caos.
Por isso, a preparação de lideranças tem de ser um investimento estratégico. Não ocorre do dia para noite. Precisa ser pensada e preparada ao longo do tempo porque impacta positivamente nos resultados financeiros e na cultura organizacional. Contribui ainda para o desenvolvimento contínuo do capital humano na companhia, fortalecendo as bases para um futuro cada vez mais promissor.
Um estudo realizado pela Gallup mostra que o líder tem influência de até 70% no engajamento dos funcionários. Já outro levantamento feito pela consultoria Michael Page aponta que oito em cada dez profissionais pedem demissão por causa de sua chefia. Há ainda casos em que o colaborador não sonha em exercer um cargo de liderança pelas implicações que acredita que a função acarreta.
“Muitas vezes, se esquecem de perguntar se a pessoa quer mesmo a promoção ou ainda se ela tem competência para exercer a nova função, porque, na hora que você vem para a liderança, a parte técnica é secundária e passa a ser muito mais o soft skill da pessoa, as habilidades dela com o ser humano e de integrar times, por exemplo, que vão contar”, destaca o coordenador regional de vendas do Grupo Risotolândia, Adriano Henrique Dias.
Não à toa, o processo de seleção deve ser muito bem equacionado, diz Bars, reforçando em dois pontos o pontapé inicial: entender o quanto essa pessoa deseja o cargo e entender se ela possui potencial para a função. “Sem que exista a análise dessas duas prerrogativas, avaliando apenas entregas técnicas, o processo acaba por expor a organização quase que a um mecanismo de roleta-russa, no qual o resultado pode ser positivo ou negativo, dependendo única e exclusivamente de sorte”, informa o CEO da Escola do Caos.
Quer ter líderes excepcionais? Forme antes excelentes profissionais, pois o exemplo deles é que contagiará os demais, ensina Bars: “Existem muitas organizações que acreditam que o simples fato de nomear alguém com um título de líder será suficiente para fazer a ‘mágica acontecer’, mas não é bem assim”.
Fazer o básico bem-feito é a receita para organizações que sonham com lideranças que alcancem o extraordinário. E o que seria o básico? “Antes de liderar outras pessoas, o candidato ou candidata a uma posição de liderança precisa ser um ótimo líder de si. Uma pessoa engajada, vulnerável, responsável por suas entregas, que entende seus acertos e erros, não se justifica e sabe quais são seus próximos passos de desenvolvimento. Logo, jamais formaremos líderes extraordinários se antes estas não forem pessoas extraordinárias”, diz o CEO da Escola do Caos.
Outro passo importante é avaliar o conjunto de profissionais antes de apostar a ficha no próximo sucessor. “Você precisa olhar para baixo do guarda-chuva e questionar: quem eu acho que tem essas competências? Depois tem que colocar os prováveis selecionados, antes de promover, em convivência com o que é ser líder e mostrar que liderança engloba muito mais entender de pessoas, porque, senão, perco um bom técnico e ainda fico sem um gestor eficiente”, acrescenta Dias, da Risotolândia.
Estratégias de liderança
Perceber que a organização está atenta às pedras no caminho da liderança, foca em saúde mental e investe em seu desenvolvimento por meio de uma cultura de aprendizagem e inovação também pode ser uma motivação indispensável para seus talentos, diz a professora da Universidade São Judas, Simone Nascimento.
Segundo ela, as empresas devem estar atentas ao que precisa ser aprimorado nesse processo de preparação das lideranças e como isso será feito. “Porque, quando a gente atropela os processos, podemos perder pessoas. E, hoje em dia, reter talentos é uma das tarefas mais difíceis porque não envolve só salário ou pacote de remuneração, mas relacionamentos. O colaborador precisa saber quem é seu líder, como ele te trata, como te reconhece, como a sua organização pensa saúde integral e qualidade de vida no trabalho, como é assistido pela organização”, resume Simone Nascimento.
Me dê motivos
Assumir um posto de chefia para ostentar no crachá não faz de ninguém um líder. Quem quer estar comandando precisa ter em mente o que significa esse novo passo. A partir daí, deve estar ciente de que o resultado não será mais dele e, sim, do time e terá de estar disponível e habilitado para lidar não somente com a sua rotina, mas com a de todos da sua equipe, assim como com emoções, problemas e desafios também.
“Acho que o mais difícil, e alguns estudos vêm demonstrando isso, são pessoas cada vez mais querendo se afastar do papel de líder por conta dessas pressões ou aquela sensação de que não é competente o suficiente. Por isso, a preparação é fundamental”, complementa Dias.
De acordo com uma pesquisa da Josh Bersin Company, as organizações que investem na formação e capacitação de seus líderes são 17 vezes mais propensas a serem reconhecidas como excelentes ambientes de trabalho e são locais onde os colaboradores se sentem valorizados e motivados.
Quer mais? Essas companhias também se destacam por sua capacidade de se adaptar às mudanças, possuindo cinco vezes mais chances de se sobressaírem em períodos de transição e incerteza, destaca o levantamento da Josh Bersein.
Esses momentos de transição são delicados e requerem total atenção das organizações. Pensando nisso, a Escola do Caos desenvolveu o START. “É uma solução que trata as dores que todo líder enfrenta neste momento e dá ferramentas para que ele passe por esse momento com técnica e possa acelerar seu próprio desenvolvimento, garantindo performance por meio do time”, diz o executivo da Escola do Caos, Anderson Bars.
Portanto, tenha em mente que assumir uma posição de liderança é uma mudança de carreira. “O fato é que, se antes a pessoa precisava entender do tecnicismo de sua área de atuação, agora precisa entender de pessoas. Por isso é que a primeira transição, que é aquele momento em que deixamos de ser apenas líderes de nós mesmos para nos tornarmos gestores de outras pessoas, é o momento mais desafiador na vida de um novo líder”, finaliza Bars.
5 bons motivos para empresas investirem em líderes do amanhã
1) Desenvolvimento de talentos internos
Investir na primeira liderança permite identificar e desenvolver talentos internos promissores. Ao promover funcionários capacitados e engajados, a empresa fortalece sua cultura organizacional e retém talentos valiosos.
2) Criação de um pipeline de liderança
Ao identificar e treinar líderes desde o início de suas carreiras, as empresas constroem um pipeline sólido de liderança. Isso garante uma sucessão suave e reduz a dependência de contratações externas para preencher cargos de liderança.
3) Engajamento e motivação da equipe
Líderes preparados são capazes de engajar e motivar suas equipes de forma mais eficaz. Ao investir na primeira liderança, as empresas criam um ambiente de trabalho mais inspirador e produtivo, onde os funcionários se sentem valorizados e reconhecidos.
4) Melhoria da cultura organizacional
Líderes bem treinados têm um impacto significativo na cultura organizacional. Eles estabelecem padrões de comportamento e ética que influenciam positivamente na empresa. Investir na primeira liderança contribui para uma cultura de respeito, colaboração e inovação.
5) Maximização do retorno sobre o investimento
Líderes bem treinados são mais eficazes na tomada de decisões, na resolução de problemas e no alcance de metas, o que se traduz em resultados financeiros positivos para a organização a longo prazo.
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Matéria para a 10ª edição da Revista Caótica. Clique aqui e acesse a edição completa.